De regresso das nossas férias dei por mim a visitar os blogues dos amigos que visito com mais ou menos frequência. Um deles foi o do amigo Fernando Peixoto.
Fiquei sensibilizada com o poema Tempo e não resisti em lhe pedir a sua autorização para o incluir aqui, no Movimentum2.
Obrigada, Fernando, pela tua amabilidade.
Para todos vós, meus amigos, deixo-vos com o poema e faço o convite para visitarem as coisas bonitas do Fernando em:
http://arcadeternura.blogspot.com/
Milú Gomes
O «MEU» TEMPO
O Tempo foi percebendo
que o Tempo também corria
e aos poucos se foi contendo,
menos veloz, cada dia.
O Tempo ficou mais lento
mais pensativo e contrito...
sentindo, com desalento,
seu carácter de Infinito.
Ele queria ficar ali
no próprio Tempo parado
para rever o que eu vi
num outro Tempo: o Passado.
Mas, se o Passado já foi…
E se o Presente aqui mora
a dor de Ontem inda dói
no Tempo de hoje e de agora.
Levanto ao Tempo a questão:
- se o Tempo não tem idade,
por que corres, tu, então,
se te espera a Eternidade?
O Tempo parou… no Tempo
sem começo, meio e fim
e criou-me um contra-tempo:
fiquei sem Tempo pra mim!
- o Tempo é só dimensão,
Que vem, que vai e não volta…
O Tempo é imensidão…
Não tem freios, anda à solta…
Retomando o movimento
o Tempo me abandonou
deixando-me o sentimento
da solidão que ficou.
O Tempo fez-me em pedaços
de amargura... ou de carinho...
de glórias... ou de fracassos...
Fiquei sem Tempo: sozinho!
Todo o Tempo que me resta
é Tempo incerto e inseguro…
É Tempo que não se empresta
nem se hipoteca ao Futuro.
Fernando Peixoto
Lampreia – Género de peixe da espécie Ciclóstomos, família dos Petromizôntidas (Petromyzontidae), muito apreciada em culinária. De forma cilíndrico e alongada, cabeça com olhos pequenos, de boca circular em forma de ventosa e de pele viscosa, macia e sem escamas.
Timor, anos 60.
O meu pai foi para Timor em 1945 como expedicionário e no final da 2ª Guerra Mundial optou, como tantos outros, ficar por lá.
O culto da amizade em Timor era uma constante e todos os pretextos para se juntarem e conviverem serviam para o enraizar cada vez mais.
Com uma certa regularidade os ex-expedicionários combinavam jantaradas, onde se saboreavam deliciosos pitéus, regados com bom vinho – oh se era bom, era do melhor!, pois naquele tempo o vinho português que lá chegava era de exportação, portanto de qualidade superior e, claro, muito caro e usado apenas em ocasiões especiais.
Nessa altura matavam-se saudades da terra natal, contavam-se anedotas e aventuras, cantava-se (o vinho clareava a voz e desinibia o espírito!), estreitando-se cada vez mais as relações de amizade.
Por vezes o grupo permitia a entrada de um ou mais elementos, normalmente militares com quem tinham feito amizade.
Era frequente presentear o(s) novo(s) conviva(s) com uma refeição do seu agrado.
Estes encontros eram pretextos para as mais variadas partidas. Ninguém ficava zangado ou molestado, antes pelo contrário, tudo terminava numa boa risota.
Certo dia o meu pai descobriu que alguns militares do continente suspiravam pelo pitéu preferido: arroz de lampreia.
De tanto suspirarem pelo “petisco predilecto” foi-lhes prometido que num próximo jantar a ementa seria lampreia. Espanto dos espantos, foi-lhes garantido que em Timor também era possível comer lampreia apanhada nas ribeiras... sim, porque esta ilha era uma terra milagreira: tudo o que havia no mundo (quer fosse peixe, animal, ave ou fruta) também se podia encontrar em Timor.
(...)
Combinou-se, então, uma lampreiada...
Naquele dia, todos sentados à mesa, esperavam o tal “manjar”! Os recém-chegados convivas – os tais de água na boca e que suspiravam há muito por aquele pitéu – aguardavam, como crianças gulosas, a altura de se servirem da lampreia... e que belo cheirinho saía da panela!
Comeu-se e saboreou-se avidamente aquela delícia dos céus! Repetiu-se uma, duas, mais vezes... parabéns ao cozinheiro!
Mas... há sempre um “mas” e um desmancha-prazeres!...
Além do cozinheiro havia mais alguém que estava por dentro da jogada. Perguntou alto e bom som, depois de uma golada de vinho tinto, que tal estava a lampreia?
Toda a gente bateu palmas e assobiou de satisfação! Todos acharam aquele prato uma delícia.
Os “mais interessados” na lampreia até afirmaram que fora um manjar digno dos deuses... e que até tinham repetido mais que uma vez!... mas que delícia!!!
Foi aqui que o meu pai e quem estava dentro da marosca não resistiram... e deram com a língua nos dentes: a lampreia não era mais que uma jibóia!
Fez-se, então, um grande silêncio... que durou poucos segundos pois os malandrecos desataram-se a rir à gargalhada! Pareciam maluquinhos, agarrados à barriga, de tanto rir!... o riso foi contagioso acabando todos a rir a bandeiras despregadas!
Todos acharam que foram muito bem enganados e que, afinal, a jibóia era uma delícia...
Todos?!!!
Todos, não! Um dos novos convivas que tanto sonhara com a sua lampreiasinha (mas também o mais impressionável do grupo!) saltou da mesa que nem um foguetão e correu até à casa de banho, metendo os dedos pela garganta abaixo, acabando por vomitar tão delicioso pitéu.
Imaginem só que desperdício!?!!!...
Na confraternização seguinte todos (mas todos mesmo!) estavam nos seus lugares! Mesmo que fosse para comer, de novo, cobra por lampreia!
Ai esta imaginação! Faz-me lembrar o Zé Manel e a história do coelho… esta história fica para outra vez.
Bom fim-de-semana e boas férias para mim!!!
Jibóia, nome comum de certas serpentes que pertencem à família da píton e da
Jibóia é o nome comum de certas serpentes que pertencem à família da piton e da sucuri. Como todos os membros da família, as jibóias são constritoras, isto é, matam as suas presas apertando-as até que morram, engolindo-as depois. A jibóia mais conhecida é a da espécie Boa Constritor, nativa das florestas da América Central e do Sul. Essa espécie tem cor cinza-avermelhada, com um desenho em forma de escada em linhas grossas e escuras.
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